quinta-feira, 5 de julho de 2012

XXY

Como o título já indica, o longa da diretora Lucia Puenzo aborda, através da protagonista Alex (Inés Efron), a vida de uma pessoa com cromossomos XXY, que possui, portanto, características físicas femininas e masculinas. Em uma sociedade ainda presa a rótulos, em qual se encaixa a sexualidade de alguém que biologicamente foge dos padrões da maioria das pessoas?

Alex tem 15 anos, idade confusa para qualquer adolescente, repleta de dúvidas, confusões pessoais, conflitos internos e externos, etc. Além de não fugir dessa fase, a protagonista ainda tem que lidar com ambiguidade física de seu corpo, que lhe garante grande confusão quanto ao seu próprio gênero.

Para evitar o assédio dos médicos que insistiam em oferecer uma cirurgia, que pelos diálogos do filme parece mais uma oportunidade de estudo de um caso raro de medicina, do que uma real preocupação com o bem estar da paciente, a família mora em uma pequena vila de pescadores no Uruguai.

É mais difícil evitar o assédio da população local, que ao perceber que há algo diferente em Alex, criam várias especulações sobre sua vida. Infelizmente o preconceito em relação ao que foge dos padrões tradicionais não se restringe à pequena vila isolada, nem somente aos casos de indivíduos com cromossomos XXY. Estes apenas confundem os que insistem em impor um padrão fechado a ser seguido.

Em tempos em que o deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, luta para que psicólogos sejam autorizados a curarem homossexuais, o filme de Lucia Puenzo pode se tornar mais uma tentativa de explicar o que nem deveria ser tão difícil de entender: a sexualidade não é uma doença. Tão pouco se restringe às características biológicas dos corpos.

Diante da obrigatoriedade maluca imposta aos indivíduos de seguir a sexualidade do próprio corpo em uma heteronormatividade, o que fazer com um indivíduo cujo corpo não define claramente ser um homem ou mulher? Com a puberdade a menina deve tomar comprimidos para evitar o crescimento de barba e o desenvolvimento de outras características masculinas no corpo, mas a sexualidade extrapola a vontade externa. Alex para de tomar os remédios, mas não tem certeza se quer assumir as características masculinas. Qualquer adolescente tem dúvidas diante de questões muito mais simples, que dirá diante de algo que afetará toda sua vida.

Os pais tem papel fundamental na vida de Alex. Kraken (Ricardo Darin) e Suli (Valeria Bertuccelli) não sabem muito bem como agir em várias situações – como quando a menina decide parar de tomar os remédios – porém a obrigatoriedade de lidar com a situação, e a relação afetiva de pais e filhos, faz com que o casal aprenda na prática a tolerar o que é diferente do que esperavam. Esta é uma importância fundamental do cinema e outras formas de arte, pois tem o poder de expor casos extremamente condizentes com a vida real, naturalizando o que muitos ainda veem como errado dado à falta de conhecimento e falta de contato com o que é diferente do que estão habituados.

Os homofóbicos, sempre curiosamente preocupados em impor um comportamento, deveriam notar através de XXY que a sexualidade não se restringe às características físicas dos indivíduos, e respeitar a orientação de cada um já é uma grande evolução para um comportamento que há séculos reprime de forma violenta uma parcela da população, simplesmente por não seguir um padrão imposto com toda força e ignorância.

A homossexualidade pode ser coibida através da força, como fazem em países como Irã ou Afeganistão e como já foi feito em nossa sociedade, onde inacreditavelmente há saudosistas interessados em resgatar essa prática patética. O filme Maurice (de James Ivory, 1987) mostra bem como alguém pode ceder às pressões sociais e abrir mão dos sonhos para seguir um padrão de vida imposto. Difícil entender como as pessoas que fazem questão de ditar regras de comportamento se satisfazem com isso; mais fácil é notar a frustração de quem deve lutar contra algo que bate de frente com seus próprios sentimentos.

Para a protagonista Alex não há a opção de lutar contra os sentimentos para se encaixar no padrão que lhe oferecerem. Talvez o melhor seja tentar viver a vida, que como qualquer outra terá vários problemas, e deixar as pequenas mentes presas em padrões retrógrados perderem tempo discutindo sua situação.


2 comentários:

Rogério disse...

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Larissa Romão disse...

Obrigada pela dica! Não conhecia o filme... muito bom!

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